Lhe ofereci o todo,
O todo de mim.
Porém o todo não era todo,
pois cheio de falhas era.
Lhe ofereci então a parte,
a parte mais repleta por subjetividades,
a parte mais misteriosa em mim.
Entretanto, o mistério tornou-se remendo,
tornou-se veneno,
E em cacos me fez.
Os cacos também tentei lhe oferecer,
mas o que de fato você queria,
Era o todo outra vez, mas não o meu todo.
Por isso pedi que devolvesse meus fragmentos,
Pois precisava me refazer,
Para o todo ser novamente,
E novamente me despedaçar por alguém.
Lisi B.
Este é um blog pessoal o qual tem por maior objetivo o compartilhamento de idéias e assuntos tão discutidos e instigados na sociedade vigente. Aqui todo tipo de crítica e novas concepções são aceitas, afinal, ninguém é dono completo do saber. Pegando uma carona com Sócrates: "Só sei que nada sei."
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
domingo, 24 de outubro de 2010
O Grande Baile
Hoje tem carnaval de Veneza,
Amanhã e depois também.
Sim senhoras e senhores,
A festa começou e não está pra terminar;
Nesse infinito baile de máscaras,
Nós vamos bailar.
A mentira será mito,
A verdade será lixo,
Pois em terra de ilusão,
Razão não tem vez.
Os clowns de Shakespeare,
Cantarão o lirismo do poeta Bandeira,
E talvez a libertação irão mostrar.
Entretanto o povo continuará preso às algemas da cegueira,
E em vão continuarão a clamar,
Pois em festa à fantasia,
Terra do nunca continua a reinar.
Lisi B.
Amanhã e depois também.
Sim senhoras e senhores,
A festa começou e não está pra terminar;
Nesse infinito baile de máscaras,
Nós vamos bailar.
A mentira será mito,
A verdade será lixo,
Pois em terra de ilusão,
Razão não tem vez.
Os clowns de Shakespeare,
Cantarão o lirismo do poeta Bandeira,
E talvez a libertação irão mostrar.
Entretanto o povo continuará preso às algemas da cegueira,
E em vão continuarão a clamar,
Pois em festa à fantasia,
Terra do nunca continua a reinar.
Lisi B.
sábado, 23 de outubro de 2010
Tangerine Girl
Este é um dos meus contos preferidos. Mostra toda arte contida nas mãos de Rachel de Queiroz =]
Tangerine-Girl
Rachel de Queiroz
De princípio a interessou o nome da aeronave: não "zepelim" nem dirigível, ou qualquer outra coisa antiquada; o grande fuso de metal brilhante chamava-se modernissimamente blimp. Pequeno como um brinquedo, independente, amável. A algumas centenas de metros da sua casa ficava a base aérea dos soldados americanos e o poste de amarração dos dirigíveis. E de vez em quando eles deixavam o poste e davam uma volta, como pássaros mansos que abandonassem o poleiro num ensaio de vôo. Assim, de começo, aos olhos da menina, o blimp existia como uma coisa em si — como um animal de vida própria; fascinava-a como prodígio mecânico que era, e principalmente ela o achava lindo, todo feito de prata, igual a uma jóia, librando-se majestosamente pouco abaixo das nuvens. Tinha coisas de ídolo, evocava-lhe um pouco o gênio escravo de Aladim. Não pensara nunca em entrar nele; não pensara sequer que pudesse alguém andar dentro dele. Ninguém pensa em cavalgar uma águia, nadar nas costas de um golfinho; e, no entanto, o olhar fascinado acompanha tanto quanto pode águia e golfinho, numa admiração gratuita — pois parece que é mesmo uma das virtudes da beleza essa renúncia de nós próprios que nos impõe, em troca de sua contemplação pura e simples.
Os olhos da menina prendiam-se, portanto, ao blimp sem nenhum desejo particular, sem a sombra de uma reivindicação. Verdade que via lá dentro umas cabecinhas espiando, mas tão minúsculas que não davam impressão de realidade — faziam parte da pintura, eram elemento decorativo, obrigatório como as grandes letras negras U. S. Navy gravadas no bojo de prata. Ou talvez lembrassem aqueles perfis recortados em folha que fazem de chofer nos automóveis de brinquedo.
O seu primeiro contato com a tripulação do dirigível começou de maneira puramente ocasional. Acabara o café da manhã; a menina tirara a mesa e fora à porta que dá para o laranjal, sacudir da toalha as migalhas de pão. Lá de cima um tripulante avistou aquele pano branco tremulando entre as árvores espalhadas e a areia, e o seu coração solitário comoveu-se. Vivia naquela base como um frade no seu convento — sozinho entre soldados e exortações patrióticas. E ali estava, juntinho ao oitão da casa de telhado vermelho, sacudindo um pano entre a mancha verde das laranjeiras, uma mocinha de cabelo ruivo. O marinheiro agitou-se todo com aquele adeus. Várias vezes já sobrevoara aquela casa, vira gente embaixo entrando e saindo; e pensara quão distantes uns dos outros vivem os homens, quão indiferentes passam entre si, cada um trancado na sua vida. Ele estava voando por cima das pessoas, vendo-as, espiando-as, e, se algumas erguiam os olhos, nenhuma pensava no navegador que ia dentro; queriam só ver a beleza prateada vogando pelo céu.
Mas agora aquela menina tinha para ele um pensamento, agitava no ar um pano, como uma bandeira; decerto era bonita — o sol lhe tirava fulgurações de fogo do cabelo, e a silhueta esguia se recortava claramente no fundo verde-e-areia. Seu coração atirou-se para a menina num grande impulso agradecido; debruçou-se à janela, agitou os braços, gritou: "Amigo!, amigo!"— embora soubesse que o vento, a distância, o ruído do motor não deixariam ouvir-se nada. Ficou incerto se ela lhe vira os gestos e quis lhe corresponder de modo mais tangível. Gostaria de lhe atirar uma flor, uma oferenda. Mas que podia haver dentro de um dirigível da Marinha que servisse para ser oferecido a uma pequena? O objeto mais delicado que encontrou foi uma grande caneca de louça branca, pesada como uma bala de canhão, na qual em breve lhe iriam servir o café. E foi aquela caneca que o navegante atirou; atirou, não: deixou cair a uma distância prudente da figurinha iluminada, lá embaixo; deixou-a cair num gesto delicado, procurando abrandar a força da gravidade, a fim de que o objeto não chegasse sibilante como um projétil, mas suavemente, como uma dádiva.
A menina que sacudia a toalha erguera realmente os olhos ao ouvir o motor do blimp. Viu os braços do rapaz se agitarem lá em cima. Depois viu aquela coisa branca fender o ar e cair na areia; teve um susto, pensou numa brincadeira de mau gosto — uma pilhéria rude de soldado estrangeiro. Mas quando viu a caneca branca pousada no chão, intacta, teve uma confusa intuição do impulso que a mandara; apanhou-a, leu gravadas no fundo as mesmas letras que havia no corpo do dirigível: U. S. Navy. Enquanto isso, o blimp, em lugar de ir para longe, dava mais uma volta lenta sobre a casa e o pomar. Então a mocinha tornou a erguer os olhos e, deliberadamente dessa vez, acenou com a toalha, sorrindo e agitando a cabeça. O blimp fez mais duas voltas e lentamente se afastou — e a menina teve a impressão de que ele levava saudades. Lá de cima, o tripulante pensava também — não em saudades, que ele não sabia português, mas em qualquer coisa pungente e doce, porque, apesar de não falar nossa língua, soldado americano também tem coração.
Foi assim que se estabeleceu aquele rito matinal. Diariamente passava o blimp e diariamente a menina o esperava; não mais levou a toalha branca, e às vezes nem sequer agitava os braços: deixava-se estar imóvel, mancha clara na terra banhada de sol. Era uma espécie de namoro de gavião com gazela: ele, fero soldado cortando os ares; ela, pequena, medrosa, lá embaixo, vendo-o passar com os olhos fascinados. Já agora, os presentes, trazidos de propósito da base, não eram mais a grosseira caneca improvisada; caíam do céu números da Life e da Time, um gorro de marinheiro e, certo dia, o tripulante tirou do bolso o seu lenço de seda vegetal perfumado com essência sintética de violetas. O lenço abriu-se no ar e veio voando como um papagaio de papel; ficou preso afinal nos ramos de um cajueiro, e muito trabalho custou à pequena arrancá-lo de lá com a vara de apanhar cajus; assim mesmo ainda o rasgou um pouco, bem no meio.
Mas de todos os presentes o que mais lhe agradava era ainda o primeiro: a pesada caneca de pó de pedra. Pusera-a no seu quarto, em cima da banca de escrever. A princípio cuidara em usá-la na mesa, às refeições, mas se arreceou da zombaria dos irmãos. Ficou guardando nela os lápis e canetas. Um dia teve idéia melhor e a caneca de louça passou a servir de vaso de flores. Um galho de manacá, um bogari, um jasmim-do-cabo, uma rosa menina, pois no jardim rústico da casa de campo não havia rosas importantes nem flores caras.
Pôs-se a estudar com mais afinco o seu livro de conversação inglesa; quando ia ao cinema, prestava uma atenção intensa aos diálogos, a fim de lhes apanhar não só o sentido, mas a pronúncia. Emprestava ao seu marinheiro as figuras de todos os galãs que via na tela, e sucessivamente ele era Clark Gable, Robert Taylor ou Cary Grant. Ou era louro feito um mocinho que morria numa batalha naval do Pacífico, cujo nome a fita não dava; chegava até a ser, às vezes, careteiro e risonho como Red Skelton. Porque ela era um pouco míope, mal o vislumbrava, olhando-o do chão: via um recorte de cabeça, uns braços se agitando; e, conforme a direção dos raios do sol, parecia-lhe que ele tinha o cabelo louro ou escuro.
Não lhe ocorria que não pudesse ser sempre o mesmo marinheiro. E, na verdade, os tripulantes se revezariam diariamente: uns ficavam de folga e iam passear na cidade com as pequenas que por lá arranjavam; outros iam embora de vez para a África, para a Itália. No posto de dirigíveis criava-se aquela tradição da menina do laranjal. Os marinheiros puseram-lhe o apelido de "Tangerine-Girl". Talvez por causa do filme de Dorothy Lamour, pois Dorothy Lamour é, para todas as forças armadas norte-americanas, o modelo do que devem ser as moças morenas da América do Sul e das ilhas do Pacífico. Talvez porque ela os esperava sempre entre as laranjeiras. E talvez porque o cabelo ruivo da pequena, quando brilhava á luz da manhã, tinha um brilho acobreadao de tangerina madura. Um a um, sucessivamente, como um bem de todos, partilhavam eles o namoro com a garota Tangerine. O piloto da aeronave dava voltas, obediente, voando o mais baixo que lhe permitiam os regulamentos, enquanto 0 outro, da janelinha, olhava e dava adeus.
Não sei por que custou tanto a ocorrer aos rapazes a idéia de atirar um bilhete. Talvez pensassem que ela não os entenderia. Já fazia mais de um mês que sobrevoavam a casa, quando afinal o primeiro bilhete caiu; fora escrito sobre uma cara rosada de rapariga na capa de uma revista: laboriosamente, em letras de imprensa, com os rudimentos de português que haviam aprendido da boca das pequenas, na cidade: "Dear Tangeríne-Gírl. Please você vem hoje (today) base X. Dancing, show. Oito horas P.M." E no outro ângulo da revista, em enormes letras, o "Amigo", que é a palavra de passe dos americanos entre nós.
A pequena não atinou bem com aquele "Tangerine-Girl". Seria ela? Sim, decerto... e aceitou o apelido, como uma lisonja. Depois pensou que as duas letras, do fim: "P.M.", seriam uma assinatura. Peter, Paul, ou Patsy, como o ajudante de Nick Carter? Mas uma lembrança de estudo lhe ocorreu: consultou as páginas finais do dicionário, que tratam de abreviaturas, e verificou, levemente decepcionada, que aquelas letras queriam dizer "a hora depois do meio-dia".
Não pudera acenar uma resposta porque só vira o bilhete ao abrir a revista, depois que o blimp se afastou. E estimou que assim o fosse: sentia-se tremendamente assustada e tímida ante aquela primeira aproximação com o seu aeronauta. Hoje veria se ele era alto e belo, louro ou moreno. Pensou em se esconder por trás das colunas do portão, para o ver chegar - e não lhe falar nada. Ou talvez tivesse coragem maior e desse a ele a sua mão; juntos caminhariam até a base, depois dançariam um fox langoroso, ele lhe faria ao ouvido declarações de amor em inglês, encostando a face queimada de sol ao seu cabelo. Não pensou se o pessoal de casa lhe deixaria aceitar o convite. Tudo se ia passando como num sonho — e como num sonho se resolveria, sem lutas nem empecilhos.
Muito antes do escurecer, já estava penteada, vestida. Seu coração batia, batia inseguro, a cabeça doía um pouco, o rosto estava em brasas. Resolveu não mostrar o convite a ninguém; não iria ao show; não dançaria, conversaria um pouco com ele no portão. Ensaiava frases em inglês e preparava o ouvido para as doces palavras na língua estranha. Às sete horas ligou o rádio e ficou escutando languidamente o programa de swings. Um irmão passou, fez troça do vestido bonito, naquela hora, e ela nem o ouviu. Às sete e meia já estava na varanda, com o olho no portão e na estrada. Às dez para as oito, noite fechada já há muito, acendeu a pequena lâmpada que alumiava o portão e saiu para o jardim. E às oito em ponto ouviu risadas e tropel de passos na estrada, aproximando-se.
Com um recuo assustado verificou que não vinha apenas o seu marinheiro enamorado, mas um bando ruidoso deles. Viu-os aproximarem-se, trêmula. Eles a avistaram, cercaram o portão — até parecia manobra militar —, tiraram os gorros e foram se apresentando numa algazarra jovial.
E, de repente, mal lhes foi ouvindo os nomes, correndo os olhos pelas caras imberbes, pelo sorriso esportivo e juvenil dos rapazes, fitando-os de um em um, procurando entre eles o seu príncipe sonhado — ela compreendeu tudo. Não existia o seu marinheiro apaixonado — nunca fora ele mais do que um mito do seu coração. Jamais houvera um único, jamais "ele" fora o mesmo. Talvez nem sequer o próprio blimp fosse o mesmo...
Que vergonha, meu Deus! Dera adeus a tanta gente; traída por uma aparência enganosa, mandara diariamente a tantos rapazes diversos as mais doces mensagens do seu coração, e no sorriso deles, nas palavras cordiais que dirigiam à namorada coletiva, à pequena Tangerine-Girl, que já era uma instituição da base — só viu escárnio, familiaridade insolente... Decerto pensavam que ela era também uma dessas pequenas que namoram os marinheiros de passagem, quem quer que seja... decerto pensavam... Meu Deus do Céu!
Os moços, por causa da meia-escuridão, ou porque não cuidavam naquelas nuanças psicológicas, não atentaram na expressão de mágoa e susto que confrangia o rostinho redondo da amiguinha. E, quando um deles, curvando-se, lhe ofereceu o braço, viu-a com surpresa recuar, balbuciando timidamente:
— Desculpem... houve engano... um engano...
E os rapazes compreenderam ainda menos quando a viram fugir, a princípio lentamente, depois numa carreira cega. Nem desconfiaram que ela fugira a trancar-se no quarto e, mordendo o travesseiro, chorou as lágrimas mais amargas e mais quentes que tinha nos olhos.
Nunca mais a viram no laranjal; embora insistissem em atirar presentes, viam que eles ficavam no chão, esquecidos — ou às vezes eram apanhados pelos moleques do sítio.
Considerado um dos cem melhores contos brasileiros do século, o texto acima foi extraído do livro “O melhor da crônica brasileira”, José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1997, pág. 47.
Tangerine-Girl
Rachel de Queiroz
De princípio a interessou o nome da aeronave: não "zepelim" nem dirigível, ou qualquer outra coisa antiquada; o grande fuso de metal brilhante chamava-se modernissimamente blimp. Pequeno como um brinquedo, independente, amável. A algumas centenas de metros da sua casa ficava a base aérea dos soldados americanos e o poste de amarração dos dirigíveis. E de vez em quando eles deixavam o poste e davam uma volta, como pássaros mansos que abandonassem o poleiro num ensaio de vôo. Assim, de começo, aos olhos da menina, o blimp existia como uma coisa em si — como um animal de vida própria; fascinava-a como prodígio mecânico que era, e principalmente ela o achava lindo, todo feito de prata, igual a uma jóia, librando-se majestosamente pouco abaixo das nuvens. Tinha coisas de ídolo, evocava-lhe um pouco o gênio escravo de Aladim. Não pensara nunca em entrar nele; não pensara sequer que pudesse alguém andar dentro dele. Ninguém pensa em cavalgar uma águia, nadar nas costas de um golfinho; e, no entanto, o olhar fascinado acompanha tanto quanto pode águia e golfinho, numa admiração gratuita — pois parece que é mesmo uma das virtudes da beleza essa renúncia de nós próprios que nos impõe, em troca de sua contemplação pura e simples.
Os olhos da menina prendiam-se, portanto, ao blimp sem nenhum desejo particular, sem a sombra de uma reivindicação. Verdade que via lá dentro umas cabecinhas espiando, mas tão minúsculas que não davam impressão de realidade — faziam parte da pintura, eram elemento decorativo, obrigatório como as grandes letras negras U. S. Navy gravadas no bojo de prata. Ou talvez lembrassem aqueles perfis recortados em folha que fazem de chofer nos automóveis de brinquedo.
O seu primeiro contato com a tripulação do dirigível começou de maneira puramente ocasional. Acabara o café da manhã; a menina tirara a mesa e fora à porta que dá para o laranjal, sacudir da toalha as migalhas de pão. Lá de cima um tripulante avistou aquele pano branco tremulando entre as árvores espalhadas e a areia, e o seu coração solitário comoveu-se. Vivia naquela base como um frade no seu convento — sozinho entre soldados e exortações patrióticas. E ali estava, juntinho ao oitão da casa de telhado vermelho, sacudindo um pano entre a mancha verde das laranjeiras, uma mocinha de cabelo ruivo. O marinheiro agitou-se todo com aquele adeus. Várias vezes já sobrevoara aquela casa, vira gente embaixo entrando e saindo; e pensara quão distantes uns dos outros vivem os homens, quão indiferentes passam entre si, cada um trancado na sua vida. Ele estava voando por cima das pessoas, vendo-as, espiando-as, e, se algumas erguiam os olhos, nenhuma pensava no navegador que ia dentro; queriam só ver a beleza prateada vogando pelo céu.
Mas agora aquela menina tinha para ele um pensamento, agitava no ar um pano, como uma bandeira; decerto era bonita — o sol lhe tirava fulgurações de fogo do cabelo, e a silhueta esguia se recortava claramente no fundo verde-e-areia. Seu coração atirou-se para a menina num grande impulso agradecido; debruçou-se à janela, agitou os braços, gritou: "Amigo!, amigo!"— embora soubesse que o vento, a distância, o ruído do motor não deixariam ouvir-se nada. Ficou incerto se ela lhe vira os gestos e quis lhe corresponder de modo mais tangível. Gostaria de lhe atirar uma flor, uma oferenda. Mas que podia haver dentro de um dirigível da Marinha que servisse para ser oferecido a uma pequena? O objeto mais delicado que encontrou foi uma grande caneca de louça branca, pesada como uma bala de canhão, na qual em breve lhe iriam servir o café. E foi aquela caneca que o navegante atirou; atirou, não: deixou cair a uma distância prudente da figurinha iluminada, lá embaixo; deixou-a cair num gesto delicado, procurando abrandar a força da gravidade, a fim de que o objeto não chegasse sibilante como um projétil, mas suavemente, como uma dádiva.
A menina que sacudia a toalha erguera realmente os olhos ao ouvir o motor do blimp. Viu os braços do rapaz se agitarem lá em cima. Depois viu aquela coisa branca fender o ar e cair na areia; teve um susto, pensou numa brincadeira de mau gosto — uma pilhéria rude de soldado estrangeiro. Mas quando viu a caneca branca pousada no chão, intacta, teve uma confusa intuição do impulso que a mandara; apanhou-a, leu gravadas no fundo as mesmas letras que havia no corpo do dirigível: U. S. Navy. Enquanto isso, o blimp, em lugar de ir para longe, dava mais uma volta lenta sobre a casa e o pomar. Então a mocinha tornou a erguer os olhos e, deliberadamente dessa vez, acenou com a toalha, sorrindo e agitando a cabeça. O blimp fez mais duas voltas e lentamente se afastou — e a menina teve a impressão de que ele levava saudades. Lá de cima, o tripulante pensava também — não em saudades, que ele não sabia português, mas em qualquer coisa pungente e doce, porque, apesar de não falar nossa língua, soldado americano também tem coração.
Foi assim que se estabeleceu aquele rito matinal. Diariamente passava o blimp e diariamente a menina o esperava; não mais levou a toalha branca, e às vezes nem sequer agitava os braços: deixava-se estar imóvel, mancha clara na terra banhada de sol. Era uma espécie de namoro de gavião com gazela: ele, fero soldado cortando os ares; ela, pequena, medrosa, lá embaixo, vendo-o passar com os olhos fascinados. Já agora, os presentes, trazidos de propósito da base, não eram mais a grosseira caneca improvisada; caíam do céu números da Life e da Time, um gorro de marinheiro e, certo dia, o tripulante tirou do bolso o seu lenço de seda vegetal perfumado com essência sintética de violetas. O lenço abriu-se no ar e veio voando como um papagaio de papel; ficou preso afinal nos ramos de um cajueiro, e muito trabalho custou à pequena arrancá-lo de lá com a vara de apanhar cajus; assim mesmo ainda o rasgou um pouco, bem no meio.
Mas de todos os presentes o que mais lhe agradava era ainda o primeiro: a pesada caneca de pó de pedra. Pusera-a no seu quarto, em cima da banca de escrever. A princípio cuidara em usá-la na mesa, às refeições, mas se arreceou da zombaria dos irmãos. Ficou guardando nela os lápis e canetas. Um dia teve idéia melhor e a caneca de louça passou a servir de vaso de flores. Um galho de manacá, um bogari, um jasmim-do-cabo, uma rosa menina, pois no jardim rústico da casa de campo não havia rosas importantes nem flores caras.
Pôs-se a estudar com mais afinco o seu livro de conversação inglesa; quando ia ao cinema, prestava uma atenção intensa aos diálogos, a fim de lhes apanhar não só o sentido, mas a pronúncia. Emprestava ao seu marinheiro as figuras de todos os galãs que via na tela, e sucessivamente ele era Clark Gable, Robert Taylor ou Cary Grant. Ou era louro feito um mocinho que morria numa batalha naval do Pacífico, cujo nome a fita não dava; chegava até a ser, às vezes, careteiro e risonho como Red Skelton. Porque ela era um pouco míope, mal o vislumbrava, olhando-o do chão: via um recorte de cabeça, uns braços se agitando; e, conforme a direção dos raios do sol, parecia-lhe que ele tinha o cabelo louro ou escuro.
Não lhe ocorria que não pudesse ser sempre o mesmo marinheiro. E, na verdade, os tripulantes se revezariam diariamente: uns ficavam de folga e iam passear na cidade com as pequenas que por lá arranjavam; outros iam embora de vez para a África, para a Itália. No posto de dirigíveis criava-se aquela tradição da menina do laranjal. Os marinheiros puseram-lhe o apelido de "Tangerine-Girl". Talvez por causa do filme de Dorothy Lamour, pois Dorothy Lamour é, para todas as forças armadas norte-americanas, o modelo do que devem ser as moças morenas da América do Sul e das ilhas do Pacífico. Talvez porque ela os esperava sempre entre as laranjeiras. E talvez porque o cabelo ruivo da pequena, quando brilhava á luz da manhã, tinha um brilho acobreadao de tangerina madura. Um a um, sucessivamente, como um bem de todos, partilhavam eles o namoro com a garota Tangerine. O piloto da aeronave dava voltas, obediente, voando o mais baixo que lhe permitiam os regulamentos, enquanto 0 outro, da janelinha, olhava e dava adeus.
Não sei por que custou tanto a ocorrer aos rapazes a idéia de atirar um bilhete. Talvez pensassem que ela não os entenderia. Já fazia mais de um mês que sobrevoavam a casa, quando afinal o primeiro bilhete caiu; fora escrito sobre uma cara rosada de rapariga na capa de uma revista: laboriosamente, em letras de imprensa, com os rudimentos de português que haviam aprendido da boca das pequenas, na cidade: "Dear Tangeríne-Gírl. Please você vem hoje (today) base X. Dancing, show. Oito horas P.M." E no outro ângulo da revista, em enormes letras, o "Amigo", que é a palavra de passe dos americanos entre nós.
A pequena não atinou bem com aquele "Tangerine-Girl". Seria ela? Sim, decerto... e aceitou o apelido, como uma lisonja. Depois pensou que as duas letras, do fim: "P.M.", seriam uma assinatura. Peter, Paul, ou Patsy, como o ajudante de Nick Carter? Mas uma lembrança de estudo lhe ocorreu: consultou as páginas finais do dicionário, que tratam de abreviaturas, e verificou, levemente decepcionada, que aquelas letras queriam dizer "a hora depois do meio-dia".
Não pudera acenar uma resposta porque só vira o bilhete ao abrir a revista, depois que o blimp se afastou. E estimou que assim o fosse: sentia-se tremendamente assustada e tímida ante aquela primeira aproximação com o seu aeronauta. Hoje veria se ele era alto e belo, louro ou moreno. Pensou em se esconder por trás das colunas do portão, para o ver chegar - e não lhe falar nada. Ou talvez tivesse coragem maior e desse a ele a sua mão; juntos caminhariam até a base, depois dançariam um fox langoroso, ele lhe faria ao ouvido declarações de amor em inglês, encostando a face queimada de sol ao seu cabelo. Não pensou se o pessoal de casa lhe deixaria aceitar o convite. Tudo se ia passando como num sonho — e como num sonho se resolveria, sem lutas nem empecilhos.
Muito antes do escurecer, já estava penteada, vestida. Seu coração batia, batia inseguro, a cabeça doía um pouco, o rosto estava em brasas. Resolveu não mostrar o convite a ninguém; não iria ao show; não dançaria, conversaria um pouco com ele no portão. Ensaiava frases em inglês e preparava o ouvido para as doces palavras na língua estranha. Às sete horas ligou o rádio e ficou escutando languidamente o programa de swings. Um irmão passou, fez troça do vestido bonito, naquela hora, e ela nem o ouviu. Às sete e meia já estava na varanda, com o olho no portão e na estrada. Às dez para as oito, noite fechada já há muito, acendeu a pequena lâmpada que alumiava o portão e saiu para o jardim. E às oito em ponto ouviu risadas e tropel de passos na estrada, aproximando-se.
Com um recuo assustado verificou que não vinha apenas o seu marinheiro enamorado, mas um bando ruidoso deles. Viu-os aproximarem-se, trêmula. Eles a avistaram, cercaram o portão — até parecia manobra militar —, tiraram os gorros e foram se apresentando numa algazarra jovial.
E, de repente, mal lhes foi ouvindo os nomes, correndo os olhos pelas caras imberbes, pelo sorriso esportivo e juvenil dos rapazes, fitando-os de um em um, procurando entre eles o seu príncipe sonhado — ela compreendeu tudo. Não existia o seu marinheiro apaixonado — nunca fora ele mais do que um mito do seu coração. Jamais houvera um único, jamais "ele" fora o mesmo. Talvez nem sequer o próprio blimp fosse o mesmo...
Que vergonha, meu Deus! Dera adeus a tanta gente; traída por uma aparência enganosa, mandara diariamente a tantos rapazes diversos as mais doces mensagens do seu coração, e no sorriso deles, nas palavras cordiais que dirigiam à namorada coletiva, à pequena Tangerine-Girl, que já era uma instituição da base — só viu escárnio, familiaridade insolente... Decerto pensavam que ela era também uma dessas pequenas que namoram os marinheiros de passagem, quem quer que seja... decerto pensavam... Meu Deus do Céu!
Os moços, por causa da meia-escuridão, ou porque não cuidavam naquelas nuanças psicológicas, não atentaram na expressão de mágoa e susto que confrangia o rostinho redondo da amiguinha. E, quando um deles, curvando-se, lhe ofereceu o braço, viu-a com surpresa recuar, balbuciando timidamente:
— Desculpem... houve engano... um engano...
E os rapazes compreenderam ainda menos quando a viram fugir, a princípio lentamente, depois numa carreira cega. Nem desconfiaram que ela fugira a trancar-se no quarto e, mordendo o travesseiro, chorou as lágrimas mais amargas e mais quentes que tinha nos olhos.
Nunca mais a viram no laranjal; embora insistissem em atirar presentes, viam que eles ficavam no chão, esquecidos — ou às vezes eram apanhados pelos moleques do sítio.
Considerado um dos cem melhores contos brasileiros do século, o texto acima foi extraído do livro “O melhor da crônica brasileira”, José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1997, pág. 47.
sábado, 9 de outubro de 2010
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Imprensa democrática, sociedade justa
Desde que a raça humana se organiza em sociedade, a grande mediadora das diversas relações sociais, políticas e econômicas é a informação. Entretanto, a informação desvinculada de um veículo que a transporte, torna-se apenas mais uma ferramenta em desuso. É justamente por esse fato que a existência da imprensa se faz essencial, pois é esta quem além de conduzir tais informações, é quem as interpreta e as ordena de maneira lógica.
É analisando essas funções exercidas pela imprensa, que depreende-se que as posições e ações tomadas por tal veículo condutor de informações devem ser essencialmente duas: ora portar-se como um meio transparente de propagação da luz, o qual não provoca desvios no raio incidente, e ora portar-se como um meio de propagação translúcido, o qual refrata o raio de luz incidente.
Portando-se como um meio transparente, a imprensa não interfere na capacidade de interpretação do receptor, o qual tem a total liberdade de qualificar e adjetivar aquela informação que lhe foi passada. Portando-se como um meio translúcido, a imprensa acaba transmitindo ao receptor uma informação parcialmente interpretada. Logo, mesmo que esses dois comportamentos pareçam excludentes entre si, estão totalmente vinculados, pois é justamente ora condicionando e ora dando liberdade ao receptor que se consegue a coesão e a justiça nesse sistema de transmissão de fatos.
Se o receptor de tais informações tem ao mesmo tempo uma visão pessoal sobre determinado fato e uma visão condicionada pela imprensa, este acaba tendo uma perspectiva global sobre o que lhe foi passado, e o entendimento e a reivindicação de suas posições sociais tornam-se maiores. Logo, a criação de uma sociedade mais consciente é iniciada. É exatamente neste ponto que a imprensa obtém seu ápice de atuação.
Se uma população mais consciente começa a ser gerada, a repulsa às injustiças e às corrupções presentes no sistema político sócio-econômico passam a aumentar, e consequentemente o padrão intelectual e social também. Se esses padrões passam a ser aumentados, o nível e a fidelidade da circulação de informações passam a ser mais efetivos, e a imprensa torna-se mais democrática. Logo, se temos uma imprensa democrática, temos uma sociedade melhor.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Anseio
Eu gostaria de ter um sangue destemido,
Circulando vigorosamente em meu ser.
Um sangue que ao percorrer os capilares,
Me deixasse rósea,
Mas não graciosamente rósea,
Desbravadoramente rósea.
Circulando vigorosamente em meu ser.
Um sangue que ao percorrer os capilares,
Me deixasse rósea,
Mas não graciosamente rósea,
Desbravadoramente rósea.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Reflexão vazia
Porque na realidade todos somos grandes publicitários. Cada um vende a imagem mais convincente e rentável de si. Entretanto, minha vontade era impor sobre mim uma placa dizendo "não estou à venda".
Agradecimento à segunda -feira
De volta à segunda nostálgica,
Que recorda a todos sobre a mortalidade humana.
Que recorda a rotina.
Que recorda o bom e velho amor.
Que recorda a traiçoeira dor.
Que recorda o xingo do patrão.
Ou, que recorda a promoção.
Que recorda o beijo dos amantes,
Que contam os instantes pra se reencontrar.
Que recorda que a vida é uma;
E que é para ser vivida,
Sentida,
Polida,
Acolhida,
Sugada.
Tratada como um oásis.
Segunda, obrigada por me lembrar;
Ah, por me lembrar de estar viva.
Que recorda a todos sobre a mortalidade humana.
Que recorda a rotina.
Que recorda o bom e velho amor.
Que recorda a traiçoeira dor.
Que recorda o xingo do patrão.
Ou, que recorda a promoção.
Que recorda o beijo dos amantes,
Que contam os instantes pra se reencontrar.
Que recorda que a vida é uma;
E que é para ser vivida,
Sentida,
Polida,
Acolhida,
Sugada.
Tratada como um oásis.
Segunda, obrigada por me lembrar;
Ah, por me lembrar de estar viva.
sábado, 19 de junho de 2010
Obscuridade
Certo estava Schopenhauer ao dizer em um de seus escritos "quanto menos instruído um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência", pois de fato, quanto mais o desejo pela verdade absoluta é instigado, mais a obscuridade é oferecida àquele que procura a clareza. Se o todo não é compreendido, o questionamento e a argumentação são nulos, e a passividade é o único desfecho.
O Fato é que as verdades absolutas se adequam ao contexto histórico em que estão situadas. É possível classificá-las em dois grandes grupos; um anterior ao início das grandes navegações e outro posterior a estas, o qual é presenciado atualmente. No primeiro grupo, as fontes de conhecimento seguras, são as provenientes das divindades, de algo superior ao ser que reflete; já no segundo naipe, as reflexões lógicas são frutos das descobertas e análises do próprio indivíduo.
Tal classificação é possível pois foram justamente nas grandes navegações que o homem sentiu-se totalmente independente e responsável por seus atos, o que conferiu a alforria da conformação imposta pela medievalidade, e o surgimento de uma nova era ideológica, a do capitalismo. Dentro do capitalismo, as verdades e o entendimento advém da circulação de informações, e nunca uma mesma teoria é vista de uma única maneira, pois a liberdade de expressão faz com que esta seja questionada. Entretanto, a maior das verdades dentro desse sistema ideológico, é que o entendimento do mundo a volta é quem insere o indivíduo ativamente na sociedade, e tal entendimento é obtido quando se tem capital. Ou seja, o conhecimento tornou-se algo financiável.
Foi a partir deste financiamento do conhecimento que o homem passou a buscar o sucesso material e idolatrar um novo deus, o Dinheiro. Para ter acesso a tal deus, passou a pautar-se pelo pensamento maquiavélico de que "os fins justificam os meios". Logo, tornou-se suscetível a manipulação dessa nova religião. A nova ideologia imposta por esta, passou a pressionar o humano de tal maneira que o tornou uma bomba atômica, que emite radiações leves como o estresse, desde a radiações intensas como o suicídio.
A busca incessante pela luz, transformou-se em individualismo, introspecção, e o homem que tanto buscou a independência ideológica, viu novamente como única saída o apego a um ser maior. O Saber excessivo tornou-se esquizofrenia e a hegemonia político- sócio - econômica fraqueza.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Entre Chips e Circuitos
Aqui vai, problemas ambientais e urbanos. Tentei abordar o problema do lixo eletrônico, tão presente no dia-a-dia. Opinem! =]]
Lisi B.
Ilhas de eletrônicos com as dimensões do Texas a boiar no Pacífico; algas cedendo seus lugares no plâncton a chips; lixões coletivos mundiais sendo formados. Este é o atual perfil artístico do planeta, criado e repaginado constantemente pelas grandes potências, e até passível de comparação com as obras de Roger Dean pelo seu caráter psicodélico e impactante.
Este estilo paisagístico vem sendo instituído desde a terceira fase da revolução industrial, quando nesse período surge sua principal essência, o resíduo eletrônico. Durante a revolução técnico-científica, graças ao avanço do física, a informática e a automação industrial tiveram seu desenvolvimento. Surgiram indústrias dos mais diversos produtos de bens de consumo, fabricando desde a velha e conhecida televisão, até o moderno ipad, além do descontrolado desejo de consumo. As nações desenvolvidas passaram a mergulhar em rios de tecnologia, e as subdesenvolvidas em mares de dejetos gerados pelas primeiras, ou seja, tornaram-se grandes aterros.
Essa é uma realidade que a cada dia se expande mais. Enquanto a Europa e a América do Norte produzem toneladas desses resíduos e as evacuam para países emergentes, estes mesmos produzem internamente uma tremenda quantidade de e-waste, devido ao estágio de desenvolvimento em que se encontram, e logo, ficam cercados por muralhas residuais. O Brasil é um bom exemplo; importa lixo eletrônico e produz em média meio quilo de tal tipo de lixo por habitante ao ano. Por falta de estrutura, a reciclagem de todo o lixo presente nessas nações torna-se dificultosa, e ocasiona uma série de danos naturais e urbanos. A única exceção é a China, que se adequa muito bem a essa situação, e retira fortunas da reciclagem do lixo ocidental.
Entretanto, as piores conseqüências de todo este ciclo são observadas no continente africano, onde o tóxico lixo eletrônico tem um fim inadequado, gera poluição, contamina a água em algumas áreas escassas, gera doenças, e torna a dramática situação vivida pelos povos deste continente mais caótica. A piedade e a compaixão falsamente demonstradas pelas grandes potências em relação ao continente, são extintas quando se trata de situações como essa.
Como a igualdade social e o extermínio da subordinação de países subdesenvolvidos a países desenvolvidos são utopias, as únicas saídas para a melhoria desta frustrante situação são crer que convenções que abordam essa temática possam sancionar de maneira efetiva o destino e o fim deste lixo, ou esperar e assistir a transformação da crosta terrestre num grande emaranhado de circuitos de cobre e silício.
Lisi B.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Mais poeminhas =]
Obscuridade
Se procuras saber quem de fato sou
Leia-me, mas não com olhos desatentos
Leia-me como uma carta anônima,
Leia-me como um enigma.
Só não me leia como um bilhete bobo de amor
Pois bilhetes bobos de amor são apenas pedaços de papel
Papéis que por vezes trazem certa nostalgia
e nostalgia, ah, esta não cabe a ti, a mim.
O que cabe a nós é o agora.
Desvende-me como quem analisa a alma.
Esqueça o que dizem minhas palavras vazias,
Concentre-se no que dizem meus olhos.
Verás então que o que estes dizem, é o que dizem os seus.
Leia-me; duas ou três vezes, se preciso for;
Entenda-me...
E, depois, corrija-me e me escreva novamente.
Lisi B.
Se procuras saber quem de fato sou
Leia-me, mas não com olhos desatentos
Leia-me como uma carta anônima,
Leia-me como um enigma.
Só não me leia como um bilhete bobo de amor
Pois bilhetes bobos de amor são apenas pedaços de papel
Papéis que por vezes trazem certa nostalgia
e nostalgia, ah, esta não cabe a ti, a mim.
O que cabe a nós é o agora.
Desvende-me como quem analisa a alma.
Esqueça o que dizem minhas palavras vazias,
Concentre-se no que dizem meus olhos.
Verás então que o que estes dizem, é o que dizem os seus.
Leia-me; duas ou três vezes, se preciso for;
Entenda-me...
E, depois, corrija-me e me escreva novamente.
Lisi B.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Adoro Millor Fernandes, na minha opnião, esta poesia é uma das melhores de suas produções =]]
Poesia Matemática
Millôr Fernandes
Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Como a carência é ingrata! Necessitamos sempre de um complemento para sermos felizes. Entretanto, a verdadeira felicidade deve ser alcançada primeiramente no eu interior, e não ser projetada em um objeto de desejo; pois, ser feliz não é absorver, possuir, e sim ser absorvido, entregar-se de corpo e alma, da parte ao todo.
Lisi B.
Lisi B.
sábado, 15 de maio de 2010
E aí galera, tudo em ordem? Hoje decidi que discutiria sobre um tema pouco lembrado em meio ao nosso individualismo ...
Num mundo tão marcado pelo individualismo, e que a cada dia se distância mais da convivência harmoniosa entre humanos, torna-se difícil acreditar e relembrar que as duas mais importantes faíscas da chama da paz continuam ativas. A rotina frenética nos fez esquecer que a solidariedade e a esperança são quem condicionam as nossas relações sociais, além de nos alienar com a idéia de que a esperança não é última que morre, e sim a primeira.
Esse processo de esquecimento e frieza teve seu complexo de ativação quando o homem passou a acreditar que poderia caminhar somente com suas próprias pernas, e edificar impérios com os próprios braços. Isso é bem verificável nas ideologias capitalistas, principalmente na norte americanas, que acreditam que todos sempre têm as mesmas oportunidades, e abraçá-las com força é uma questão de competência pessoal. O fato é que pensar que o caminho pessoal é construído individualmente, é ilusão.
Nascer parece simples, entretanto até para isto um dia precisamos da solidariedade e da esperança. Da primeira, para nos retirar do aconchegante porém temporário leito materno, da segunda para nos trazer de modo acolhedor e confiante à vida. É justamente nesse ponto que entendemos que nosso caminho já se inicia com o auxílio de outras mãos. Logo, viver é estar constantemente conectado com o próximo, e como numa construtora civil, edificar as estruturas da boa convivência.
Porém, como a mão que executa o violão continua sendo aquela que origina a guerra, como diria Marcos Valle, é preciso que o ânimo e a confiança volte a habitar a consciência de cada um, pois os atuais males do século, a depressão, a solidão, atingem milhares de indivíduos. Se abraços, sorrisos e o simples ato de auxiliar aquele que cai fossem produzidos em série, a cura para tais males já teria sido efetivada.
Viver é muito mais do que fechar-se em quatro paredes. Viver é portar-se como uma célula que ligada a outras constitui tecidos, órgaos, sistemas e por fim este grande organismo que chamamos de civilização humana. Se estas células falharem individualmente, os danos serão medianos; se falharem em conjunto, serão preocupantes , entretanto se atuarem de modo efetivo, o funcionamento harmonioso de tal organismo será preciso, perfeito.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Escrivaninha
Na escrivaninha bege, livros, flores, dores;
Resquícios de um amor não correspondido
Resquícios de alegria
Que em doce fantasia
Ja promoveram a harmonia em quem tanto quis sofrer
Em quem tanto, numa tentativa frustrada, quis amar.
Lisi B.
Resquícios de um amor não correspondido
Resquícios de alegria
Que em doce fantasia
Ja promoveram a harmonia em quem tanto quis sofrer
Em quem tanto, numa tentativa frustrada, quis amar.
Lisi B.
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